Kabul,
capital do Afeganistão, se situa em um vale entre montanhas muito altas. Estas
no seu entorno, sempre nevadas, são o começo do Hindukush, que por sua vez é
uma parte dos Himalaias. Quando o avião se prepara para iniciar a descida,
ainda sobrevoando as montanhas altíssimas, pontiagudas e brancas, uma ansiedade
brota. A proximidade dos cumes é grande e um universo assustador se impõe.
Melhor é não olhar para baixo mas a minha natural curiosidade ultrapassa os
limites do meu medo e olho. Olho e fico extasiada com aquela paisagem. Me sinto
pequenina e limitada. Penso em que tipo de vida transita por aquelas paragens
assustadoras sob o ângulo da minha visão. Devagar as montanhas vão passando...
vou passando por elas. De repente o vale do rio Kabul e a cidade..., outrora,
grande e importante centro cultural, hoje..., calcinada por guerras sucessivas
e heroicamente sendo reconstruída. Vistas de cima, as casas se misturam com a
cor do solo. A maioria delas, construídas com o barro do lugar, têm a mesma cor
da terra. É bonito ver Kabul do alto mas estou ansiosa para andar em suas ruas,
conhecer o seu povo e sentir a atmosfera da cidade, que esteve em tantas
manchetes, como alvo, na caça mal sucedida a Osama Bin Laden. Ali naquele
lugar, os afegãos protegeram, em algum momento, o seu hóspede. Para os afegãos
os hóspedes são protegidos até com a própria vida. Com isto não contavam ou
disto não sabiam. Mas o concreto é que muitos alvos equivocados foram
atingidos. Hospitais, escolas e habitações de civis e muitas pessoas morreram.
Kôbul...
Num dia, já
há muito passado, você entrou na minha casa,
por uma
carta... Kôbul tinha o povo
mais digno
jamais visto.
Assim você
entrou na minha casa.
A minha
geografia não fora tão longe para trazer você a mim.
Foi a
carta.
Imaginei...Kabul...o
povo mais digno...Afeganistão.
Tão
distante.
Pensei em
você mesmo sem lhe conhecer.
Eu nem
mesmo sabia direito onde lhe encontrar.
Agora
Kôbul...aqui estou
na sua
pulsação, no seu coração.
A primeira
neve ... O primeiro grande frio.
Da janela
vejo um pouco das suas casas, da sua gente...a mais digna.
Eu não
sabia como caminhar por suas ruas...tinha medo
de não ser
o que você queria de mim.
Envolvi meu
corpo com muitos panos...como afghani.
Tinha
frio...Coloquei o tchadór.
Aqueci-me e
me encorajei e saí..., tímida.
Não
importa.
Decidida.
Queria ver
seu rosto perto do meu.
Tive medos.
Meu corpo
tropical esfriou.
Mas agora, aquecida
e devagar percebo seu sentimento.
Vejo pipas
coloridas no céu.
Ouço o
muezim chamar para oração
nas suas
manhãs e tardes,
do alto dos
minaretes das mesquitas envelhecidas.
Apalpo seus
muros furados por balaços de canhões.
Tateio seus
botões de rosa aguardando o calor,
para
florescer.
Acaricio
seus animais da rua, suas crianças,
com os
olhos.
Sua gente,
seus pássaros, suas montanhas, sua neblina,
sua neve,
seu sol, sua destruição e seu
renascimento,
com os
olhos...
Kôbul...Salâm
aleikum...
Kabul/março/2005
Parabéns, Mãe Maria, gosto muito dos seus escritos. Fico feliz de você compartilhar isso com todo mundo.
ResponderExcluirGrande abraço!
Saudades Mãe!!!
Fico imensamente feliz por vc ter gostado! Devagar vou abrindo o baú e postando e é um grande prazer saber que vc lê os meus escritinhos.
ExcluirMinha querida amiga, simplismente Maria
ResponderExcluirGratissima por ter lido querida Elza. Vou postando e será um prazer imenso saber que vc lê.
ExcluirMui lindo Maria, como vc.
ResponderExcluirAladas palavras!! Obrigado por compartilhar conosco um pouquinho de você, Maria... nós a amamos, sábia e acolhedora amiga.
ResponderExcluirQue bom que vc leu Gilmar! Fico grata.
ExcluirGostei muito!
ResponderExcluirObrigada por compartilhar!
Fico grata por vc, ter lido e recomendado!
ExcluirRecomendo!
ResponderExcluirQuerida amiga Maria dos índios, Maria de todos os povos... Obrigado por este texto tão lindo., você surpreende sempre!
ResponderExcluirItagiba, amigo que não vejo há muito tempo!Fico feliz por vc ter lido e lhe agradeço o carinho nas palavras.
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