quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Fim de tarde

O casal de araras fez ninho no oco da palmeira e ali em todo amanhecer e entardecer fazia sua algazarra escandalosa e alegre. Eu ficava embevecida olhando e ouvindo! Finalmente em um dia feio, homens cortaram a palmeira das araras. Quando elas voltaram a tardinha, não encontraram a palmeira que escolheram para abrigo. Tristes e decepcionadas tiveram que procurar outro lugar. Eu perdi o cotidiano espetáculo da algazarra das araras e tive uma raiva imensa de quem decidiu que a palmeira deveria ser cortada.

terça-feira, 1 de janeiro de 2019

andarilha: Vengo - Naci En Alamo - Tarde. Final de sábado. A ...

andarilha: Vengo - Naci En Alamo - Tarde. Final de sábado. A ...

Naci En Alamo (Original Video Clip)

Un sentimiento triste que se baila

 
Lá se vão os anos e continuo na andança mental e física quando é possível. Estive em Buenos Aires na CLACSO e em apenas 1 dia e meio corri atrás do sentimento "tanguero" argentino. Os dançarinos que apresentam sua arte na rua também o fazem em grandes palcos. O vídeo é uma prova disso. Conheci o casal do vídeo. Espetacular!!! Vejam!! Johny Carvajal e parceira

terça-feira, 17 de abril de 2018




Lembranças de Kabul: Akhelah e seus filhos: Mansur, .Morsal e Samia. Passei dias agradáveis com essas pessoas lindas. Sinto muita saudade!

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Afegnistão- mulheres e burkas

Tenho postado nesse blog pouco visualizado, as minhas impressões sobre o que vivi no Afeganistão. Minhas emoções, meus longos períodos de solidão com meus pensamentos e a expressão do meu amor pelas pessoas e por tudo que vivi. Estive no Afeganistão por duas vezes. Como já havia estado por outras duas vezes no vizinho Paquistão, de alguma forma já me sentia familiarizada com os hábitos islâmicos daquele canto do mundo, mas lá houve algo que me prendeu e que de uma forma curiosa me abriu para conhecer mais sobre os princípios do Islã, esse mundo tão discriminado no ocidente.

Eu havia estado anteriormente na fronteira do Paquistão com o Afeganistão em uma viagem de trem, via Khyber Pass.  Nesta primeira visão fronteiriça do Afeganistão vi o caminho de Alexandre o Grande, entre as montanhas, comi pela primeira vez o arroz khabuli, delicioso e condimentado. Ouvi pela primeira vez o som da música regional, sentada entre muitos, em grandes tapetes, dispostos no solo cru, sob uma tenda. Impossível esquecer pois a música exótica, misturada ao som do vento fresco, entre nativos e um número inexpressivo de turistas. Me envolvia de uma forma tão profunda, impossível de descrever. Mas era o prenúncio do que eu sentiria no Afeganistão, anos depois.                                        
A minha primeira viagem ao Afeganistão foi longa com uma conexão em Dubai, perdida no imenso aeroporto em construção e entupido de gente. Era época do Ramadã e muçulmanos de várias nacionalidades e culturas se dirigiam a Meca na ânsia de beijar a pedra Negra na Santa Caaba. Entrei em uma imensa fila para passageiros em conexão e me extasiei com a variedade dos trajes e jeitos islâmicos. Fiquei ali naquela fila, esquecida do mundo, olhando as fisionomias, roupas e sons, pensando no sentimento que moviam aquelas pessoas a saírem de lugares tão distantes e diversos para pelo menos uma vez na vida entrarem na roda em torno da Caaba  e beijar a antiqüíssima Pedra Santa. Quando dei por mim busquei saber a hora e vi que havia demorado muito na fila. Meio em desespero saí da fila para buscar socorro que naquele lugar e situação não foi muito fácil. Mas consegui arranhando inglês  com um jovem que permitia ou não a entrada de pessoas para as outras dependências do aeroporto.Ele olhou meu bilhete e me disse que meu avião já estava no ar. Fiquei ali atônita, sem saber o que fazer. Percebendo minha aflição ele me encaminhou a um guichê da Emirates, que era a companhia aérea que me levou até lá e me levaria a Kabul. Ao final das contas, me enviaram a um hotel no centro de Dubai. Pude escolher entre ir a Karachi em posterior conexão a KAbul ou ir direto, após 24 horas ao meu destino final que era KAbul. Preferi a segunda opção e tive a possibilidade de vivenciar um dia inteiro, a bordo de um táxi, com motorista pakistani, a Dubai em obras. Dali Kabul e as coisinhas que vou postando para quem interessar em saber.

Escolhi iniciar pelo Afeganistão pois ali senti fortes emoções, talvez pela exoticidade de tudo à minha volta mas especialmente pelo sentimento que me faz querer voltar e rever as pessoas e os lugares que ficaram eternamente na minha memória.

Andar pelas ruas de Kabul era sempre um prazer para mim. Mesmo em meio a tanta destruição eu conseguia ver beleza e observava tudo. Às vezes saía com Akheláh, que cuidava da casa e das tarefas domésticas e não me deixava fazer nada. Ás vezes sozinha e também com Michael. Mesmo que no processo de reconstrução do país, após a queda do Talibã não fosse mais exigido que as mulheres usassem burka, muitas ainda usavam. Até Akheláh, mulher de uma família simples e maravilhosa, cujo esposo e filhos homens não exigiam este hábito, ela saía às ruas somente de burka. Um dia perguntei a ela por que ela estava sempre sob a sua burka cinza sobre o corpo e ela me respondeu que a usava porque gostava, porque sob aquela vestimenta ninguém sabia como ela era e que por isto se sentia protegida dos olhares masculinos para bem ou mal. E enfatizou que usava porque gostava, simplesmente gostava...

Afghanis
nas ruas brancas.
Sem sombrinhas,
passos rápidos...
Mulheres...burkas...frágeis protetoras
da ansiedade dos homens
ou da neve que cai?
Nas ruas de Kabul
mulheres coloridas
embaixo das burkas cinza azul.
Alegres.
Batom e sensualidade.
Nas ruas, passos, um atrás
do outro.
E quem sabe?
E quem são?
E o que sentem?
Mulheres coloridas
embaixo das burkas cinza azul...
Afghanis...
Kabul/março/2005